Olhando agora para essa lagoa, esse pôr-do-sol da minha terra, faço um regresso a minha infancia."Estou de volta ao meu aconchego, trazendo na mala bastante saudades..." Sinto o cheiro adocicado das rosas do jardim de tia Júlia; os dois oitões da casa repletos de rosas, margaridas, girassois... Os pés de papoula e tantos outros cheiros da casa da minha vó. Fico mergulhada de lembranças nesta lagoa situada na serra, com um clima tão gostoso... Uma cidade linda, como diz a letra da música de Jango: "São Miguel, São Miguel esta terra é doce mais que o mel / O povo daqui é um barato, povo educado, hospitaleiro e respeitado..." Caminho agora por ruas e becos; o alto do Pinheirão; as novenas de maio e a casa de vó, onde Estanislau não nos deixava em paz quando ficava revelando fotografias no quarto de Fael. As manhãs de névoas, o frio e o sussurro dos meus tios conversando junto ao fogão de lenha, aquecendo suas mãos daquele frio sedutor da serra. Acordavamos na casa da minha vó ouvindo estes sussurros, e lá iamos, eu e Salete, para nosso devocional: "'bença'" tia Júlia, "bença" tia Augusta, "bença" Titico, "bença", "bença", "bença..." E íamos nós desatando o nosso rosário de "bença". Nessas manhãs o cheiro do café no bule sobressaía-se ao cheiro dos pães quentinhos da padaria de "Francisquim" que ficava a duas calçadas da casa da minha avó. O pé de pitanga, os coités da casa de vó, tudo é recordação. A festa de setembro com a bateria de fogos, as caminhadas para lagoinha, a casa de farinha, as noites de missões, o parque, as músicas no auto-falante, as vezes que íamos roubar carolina (tipo de doce) lá em Ademar de Joel, (minha irmã, salete, eu e outras meninas). As voltas no mercado nos dias de feira, são tempos de infância em que nós eramos felizes, diferentes das crianças de hoje... Volto para a realidade e recolho as minhas lembranças nesse fim de tarde, distante da minha lagoa de infância...
Ah! Tempo!
ResponderExcluirNunca quis voltar em ti.
Apenas espero que me devolvas
os sentimentos que vivi.
Não deixes que meu sorriso
se perca pelo cansaço
e que minha voz se cale por um fracasso.
Não deixes que meus caminhos
se desviem da meta,nem que os percalços
sejam maiores que minha força
para que eu siga esta reta. (Eduardo poisl)
o interessante é que quando vou lendo, vou fazendo uma incenação em minha mente, é como se tivesse vendo tudo como uma telespectadora, e isso me traz uma senção tão estranha rssrsr, mais gosto muito de ler o que você escreve.
ResponderExcluirPor isso todos os dias venho ver se vc postou mais alguma coisa.Parabens amo tudo que voce escreve, como disse em outro comentário parece que estás dentro de minha mente, ate parece q sou eu que escrevo rsrsrs.Temos pensamentos parecidos.
Somos privilegiadas,temos o poder de trazer de nossa infância feliz imagens,cheiros e sabores inesquecíveis...Bjo no coração!
ResponderExcluirÉ impressionante a riqueza de detalhes que você descreve sua infância, lembro de algumas passagens outras nem tanto...o período que lembro da casa de vó já não tinha os girasois...mas as papoulas, os jasmins, esses lembro bem do cheiro, dos sussurros de nossos tios que sua educação não os permitiam falar alto e isso me remete a ler e compartilhar este poema que acho belíssimo
ResponderExcluirOh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã.
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberto ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora de minha vida (...)
Cassimiro de Abreu