segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Plural

Eu, em meio as minhas trevas luminosas, fraquezas forças, tristezas alegrias. Sou todo fragmentado. 
Mas dos cacos de vidros espalhados fiz de mim um mosaico, um vitral. Sou todo inteiro, mesmo sem ser total. Mas ainda que seja assim, mesmo que seja assim, mesmo assim vou prazenteiro e agoniosamente, vivendo unidade e pluralidade, pluralidade e unidade em meios a desolação e consolação da vida...

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Tempo de Falar?

Estava meio travada por permitir que a tristeza inundasse meu peito e calasse o meu verbalizar... Entretanto, até na tristeza tenho o que falar... Aliás, falar da tristeza transforma em palavras nosso sofrer e esvazia nosso coração das mazelas que acumulamos por não saber expulsar aquilo que não desejamos carregar... Nem sempre é fácil falar... Mexemos em feridas que parece melhor não tocar... Porém, como curar as feridas sem abri-las, tocá-las, usar o remédio correto ainda que doa? É assim que levo minha vida... Falando, "oralizando" o que em mim se faz conflito... Pode parecer falatório, pode parecer inútil, mas sou resultado de um mundo falado, construído no significante das palavras... Portanto, preciso e desejo encontrar meus significados pelos símbolos dos vocábulos, pelo dito e pelo calado...
E assim inicio mais um dia da vida: Agradecida pela dádiva de falar e feliz no meu silêncio falado...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Porque escrevo...

 Ultimamente ando sem conseguir escrever, vou alimentando aqui com os textos que gosto. Meus dias estão inquietos, encontro-me sonolenta e lenta, vou vivendo das reservas...


Aperta o meu coração, uma vontade de dizer sem saber se o outro quer ouvir: cuida de você, você pode, você é capaz, não fica aí nesse lugar. Vontade de dizer, compassiva, com empatia, porque eu muitas vezes também fiquei esperando. Até começar a entender que, depois que a gente cresce, a proteção amorosa, o suporte, a delicadeza, precisam começar na nossa relação com nós mesmos… Uma benção receber amor. Mas quando a gente dói, a gente precisa saber formas de cuidar da própria dor com o jeito carinhoso com que gostaríamos de ser cuidados pelos outros, com a delicadeza com que cuidamos de outras pessoas. A gente precisa se ter, antes de tudo. O beijo precisa começar em nós." Ana Jácomo

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Saudade para que?



Existem jovens que sentem nostalgia por não ter sido jovens em gerações passadas. Saudade do enfrentamento com os militares dos anos 70, da organização estudantil nas ruas, do sonho socialista-comunista-anarquista-marxista-leninista. Ter saudade da ditadura é ter saudade de conhecer a tortura, o medo, a falta de liberdade e a morte. Ser jovem naquela época era coexistir com a morte, ver os amigos ser tirados das salas de aula para o pau-de-arara, para o choque elétrico, para as humilhações. Da mesma forma, quem sente nostalgia dos anos 80 se esquece do dogmatismo limitante das tribos daqueles tempos, fossem punks, góticos ou metaleiros. Hoje, é a vez dos mauricinhos-patricinhas-cybermanos-junkies, das raves, do crack, da segurança dos shoppings e do Beira- Mar. Um cenário que pode parecer aborrecido ou irritante para muita gente que tem uma visão romântica de outras décadas. Mas nada melhor que a liberdade que temos hoje para saber qual é a real de uma juventude e de uma sociedade. Hoje, a juventude é mais tolerante com as diferenças. Hoje, existem ferramentas melhores para a pesquisa e a diversão. Hoje, a participação em ONGs é grande e isso mostra um país que trabalha, apesar do Estado burocrático. O país está melhor. Falta muito, mas o olhar está mais atento, e até o sexo está mais seguro. Não temos hinos mobilizadores, mas nem precisamos deles.
O jovem de hoje não precisa mais lutar pelo fim da tortura ou por eleições diretas, pois outras gerações já fizeram isso. Se o país necessitar, é verdade, lá estarão eles de cara limpa, pintada, o que for. Mas é bobagem achar, como pensam os nostálgicos, que tudo já foi feito. Há muito por realizar pelo país. Seria bom, por exemplo, se a juventude participasse de forma mais efetiva na luta pela educação e pela leitura. Sim, porque lemos pouco, muito pouco. Ler mais vai fazer a diferença. Transformar a chatice da obrigação de ler Machado de Assis no prazer absoluto de ler Machado de Assis. Repensar a escola também é fundamental. Dar ao aluno mais responsabilidade pelo próprio destino e a chance de se auto-avaliar e avaliar seus professores. Reformular o sistema de avaliação e transformar a escola numa atividade de prazer: trazer para dentro dos colégios os temas da atualidade, além de transformar numa atividade doce o trinômio física-química-biologia.
Vivemos num país que mistura desdentados com marombados, famintos com bad boys, motins em prisões com raves na Amazônia, malabares nos cruzamentos com gatinhas tatuadas, crianças com 15 anos na Febem e outras com 15 na Disney. É Macunaíma dando passagem aos tropicalistas, numa maçaroca que é o samba-enredo chamado Brasil. É um país com muitas diferenças – e acabar com elas é papel dos jovens. A juventude deve, acima de tudo, saber desconfiar das verdades absolutas. Desconfiar sempre é ser curioso, pesquisador, renovador, transgressor. Seja intransigente na transgressão. Sempre diga não ao não – e desafine o coro dos contentes. Texto de Serginho Groisman