" O inverno cobre minha cabeça, mas uma eterna primavera vive em meu coração"
Victor Hugo
Hoje estou com vontade de conversar sem palavras, então deixei de lado algumas coisas e vim ouvir o barulho das teclas. Enquanto digito este texto, está caindo uma chuva mansa que traz consigo um vento gelado. E eu que sempre sonhei com as noites de minha infância, agora estou aqui ouvindo o barulho quase imperceptível dos pingos e sentindo o cheiro de terra molhada. Aí a gente se cala e não dá nem para escrever. É como se uma outra conversa se impusesse, a conversa entre a natureza e nossa alma.`É um diálogo maior e os outros diálogos silenciam, são obrigados a esperar. Tenho andado ausente até de mim, e essa chuva que chega, limpando as ruas e fazendo a folhagem brotar, vai também nos lavando aos poucos, carregando nossos rancores e mágoas e limpando nossos avessos. Quando eu era menina e chovia forte em minha terra, eu ia para a janela da minha casa e ficava jogando barquinhos de papel na enxurrada. Olhava aqueles barquinhos indo embora, para um destino que eu ignorava, e sentia que a vida tinha uma dinâmica maior do que parecia. Era cheia de promessas e possibilidades... As vezes eu achava a minha casa escura e pobre e quando a enxurrada passava eu a achava mais alegre e iluminada porque o vento e a enxurrada levava os meus medos para longe. Os barquinhos carregavam meus sonhos. O barulho da chuva me ajudava a encontrar serenidade. É por isso que prefiro ficar em silêncio enquanto ouço a chuva caindo de mansinho no telhado. Hoje não tem enxurrada, minha janela fica longe da estrada e eu estou sentindo uma saudade daquelas que apertam a garganta, e fazem todo o corpo doer. Mas vou guardar meus sonhos, não existe mais o oitão da casa nem aquela menina para jogar seus barquinhos na enxurrada. Um dia, talvêz quando a primeira chuva forte vier, vou lá fora soltar alguns barcos que ficaram presos no mourão da estrada. Quanto aos barquinhos, continuo sem saber pra onde eles vão, mas confio na sabedoria da chuva e na força da enxurrada, que levaram meus barquinhos para junto de Deus.
as vezes tem coisas que fazemos que outras pessoas acham bobagem, besteiras, mais só nós sabemos o que significa e quando deixamos de fazer essas "besteiras" elas nos fazem faltas.
ResponderExcluirAmiga linda, tudo que quero neste momento, e que continues a fazer barquinhos, e que vivencies tua curiosidade, vai sim atrás da correnteza, vá descobrir qual destino foi dado aos pedacinhos de papel que sabiam navegar...BJO! Sempre saudade dessa poeta dos sonhos.
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