2010 passou rápido! Tão depressa e de repente a gente sente que o Natal já vai chegar, e com ele todas as ruas da cidade se vestem de uma roupagem colorida. As ruas dos bairros ricos da cidade se enfeitam de luzes e de cores. Nas famílias, nas repartições públicas e nas empresas trocam-se presentes em confraternizações natalinas. Muitos fazem a festa de aniversário esquecendo o aniversariante. As vezes tenho a impressão que as festas natalinas não tem nada a ver com o nascimento de Jesus.
Do ponto de vista humano, desde que não seja pura formalidade hipócrita, é muito importante as confraternizações que reúnem as famílias em torno de si ou os colegas nos locais de trabalho e estudo. Porém a cada Natal, uma ferida que sangra o ano inteiro sem parar, fica mais aberta e exposta: a ferida da pobreza e da violência extrema em que vivem milhões de brasileiros, sem falar do absurdo da favela do alemão e de tantas outras favelas do nosso Brasil. A alegria do Natal é também triste. A gente só poderá ter uma noite realmente feliz, quando a riqueza do nosso país sair das mãos de uns pouquinhos de brasileiros para as mãos de todos. Como pode ser noite feliz se o pobre meu irmão e irmã não tem casa digna onde morar? Vemos na TV, vários apresentadores disputando audiência explorando a miséria de pessoas que vivem nas favelas e ainda bem que alguns dos sorteados no final são beneficiados com uma moradia digna. Eu me questiono nessa tarde em que escrevo para mim. Como pode ser noite feliz se o pobre do meu irmão e irmã ganha um salário injusto ou está desempregado? Como pode ser noite feliz se tantos e tantos irmãos e irmãs passam fome? Como pode ser noite feliz se para os ricos ficam os planos de saúde e os melhores hospitais enquanto o pobre meu irmão e irmã não tem o mesmo acesso, como se saúde fosse um privilégio e não um dever do Estado? É tanta gente sofrendo: as crianças, os velhinhos, os doentes, miseráveis e excluidos! Como pode ser noite feliz se você chega no Hospital Walfredo Gurgel e encontra o caos diante de você? Não é suficiente a solidariedade, é preciso transformar as estruturas. Necessitamos de governos comprometidos com as causas populares, de empresários com visão social e respeito ecológico, de operários organizados na conquista de seus direitos em participar do lucro do trabalho de suas mãos e do suor de seu rosto, de igrejas e outras expressões religiosas comprometidas no engajamento pela dignidade humana e de cidadãos consciente de seus direitos e deveres na construção de uma sociedade justa e fraterna. Como posso ter uma noite feliz? Como posso ter uma "noite feliz e cheia de Paz" se Jesus continua a nascer pobre entre os pobres, no meio de burro e boi, e filho de seu Zé e dona Maria? Não de jeito nenhum, o Princípe da Paz que nasceu e que agora estou ouvindo sendo louvado no ensaio da cantata aqui na igreja veio trazer paz aos corações e mentes, mas não haverá paz na terra enquanto perdurarem as opressões aos povos, o egoismo, as injustiças socias, os desequilibrios econômicos e uma classe politica que só governa para uns poucos. Esta noite é feliz porque Deus veio ao mundo... veio até nós e se humanisou - se fez carne de nossa carne- e anunciou as boas novas de salvação. Veio ao mundo apresentou a Palavra de seu Pai, morreu e ressuscitou, nos deixando uma lição de ética e de transformação. E agora me pergunto será que Deus anda tão feliz assim nesta Noite de Natal? Por isso a inquietante interrogação: Noite Feliz?
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