sábado, 9 de abril de 2011

Soneto

Mais um sábado, cá estou eu tentando escrever e ouvindo um lá/lá/lá... Os alunos da aula de canto aqui em casa, digo em casa porque fica no primeiro andar da igreja e eu moro em baixo. Daqui a pouco é a vez do sax, eu amo o som que sai desse instrumento. Ele acorda a alma para outras sinfonias. Lembrei de um soneto de Camões que chega assim suave como a brisa e que traz o som da música nessa tarde morna que vai passando como outras tardes sonhadas.

A minha alma gentil, que te partiste

tão cedo desta vida descontente,

repousa lá no Céu eternamente,

e viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento etéreo, onde subiste,

memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente

que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te

alguma coisa a dor que me ficou

da mágoa, sem remédio de perder-te


roga a Deus, que teus anos encurtou,

que tão cedo de cá me leve a ver-te,

quão cedo dos meus olhos te levou.

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