sexta-feira, 28 de março de 2014

O Jardim


Tenho um jardim estranho,
desolado, embora doce,
onde uma rosa bem rosa aparece vez em quando,
fica, perfuma, parte, sem que eu a comande.
No jardim, de vez em quando,
tem uma rosa doce e fugidia,
que vem e parte antes que me acostume,
e caso o faça, caso desvairadamente o faça,
ainda assim parte, ainda assim voa para longe,
e fica um vazio na grama,
fica um vazio na foto, na moldura,
fica um vazio na alma,
a ponto de eu cogitar, noutro desvario,
preferir que nem venha, que não volte,
mas é só um desvario tolo, que passa antes
que eu respire outra vez ainda,
só um desvario tolo:
eu morreria sem ver a rosa vez em quando,
sem olhar seu entorno,
sem perceber em suas pétalas o sol,
ou o vento, ou a luz, ou a sombra, ou chuva.
Acho que penso isso por que cada vez que parte,
a rosa me corta com seu mais mordaz espinho,
cada vez que é levada eu me corto por dentro,
eu sangro, eu sofro, choro, lamento.
Cada vez que a rosa vai ainda fica seu perfume,
o jardim fica silente, arrumado,
tenho mais tempo.
E mais tempo e menos cuidados não traz paz alguma,
apenas um vazio maior que uma cratera,
de uma lua que explode em minha vida.
E quando está aqui, neste jardim desolado
e doce de meu peito,
não tenho tempo que baste, nem forças,
tenho mil compromissos que a rosa às vezes
não entende. Noutras leva com uma
madureza própria das sequoias,
e veja que a rosa bem rosa ainda é pequena.
Mas sempre, sempre, a rosa vem, perfuma e parte,
sempre, sempre, regularmente,
e regularmente me alegro quando chega,
me alegro quando fica, enquanto fica,
e ela parte,
deixando outra vez um jardim vazio,
incompleto, silente, triste, amargurado.
É só um jardim, é só uma rosa,
e só um jardineiro, incompleto boa parte do tempo.
E se algo me consola, neste jardim insano,
é imaginar a rosa alegre, bem, regada,
alimentada, envolta em luz e uma vida boa,
porque se dói haver uma rosa que parte mais
do que fica,
maior dor seria não haver rosa alguma.



William Douglas

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